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OPINIÃO: Seleção Brasileira está em outro patamar; virou mera coadjuvante

Alex Xavier
Rony em sua estreia com a Amarelinha
Rony em sua estreia com a AmarelinhaCBF
O amistoso contra Marrocos, no último sábado (25), não só escancarou que o Brasil precisa de um técnico, como também foi mais um sinal de que a Seleção pentacampeã do mundo caiu de patamar.

A justíssima derrota brasileira por 2 a 1 em Tânger teve três serventias: 

- Ajudou Andrey Santos a ganhar os pontos necessários para conseguir o visto de trabalho na Premier League;

- Serviu de coadjuvante de luxo para o time africano celebrar junto a seu público o quarto lugar na Copa do Mundo de 2022;

- e engordou o bolso da CBF. 

Até os desavisados sabiam que o Marrocos era favorito, pois hoje os africanos têm mais time que o Brasil. Só que o que talvez muita gente ainda não tenha percebido é que o apequenamento da seleção pentacampeã do mundo não é circunstancial, e sim uma nova realidade.

Para quê fazer um amistoso sem treinador?
Para quê fazer um amistoso sem treinador?AFP

Trata-se de uma seleção que ainda entretém audiências mundo afora (algo que a CBF capitaliza bem) e que carrega muita história, mas que não rivaliza com as principais equipes do planeta já faz tempo. 

O Brasil atravessa sua pior crise na história das Copas. Desde 2002, o time passou uma única vez para as semifinais do torneio – e era melhor não ter passado, pois deu de frente com uma equipe muito melhor e apanhou de 7 a 1, algo inédito em sua história.

É verdade que na Copa de 2026 igualaremos o jejum 1970-1994, mas naquele hiato a Seleção fez pelo menos dois excelentes Mundiais (1978 e 1982), algo que não vimos na seca atual.

De 1930 a 2022
De 1930 a 2022Flashscore

O Brasil não reina mais nem em seu quintal, haja vista que a vizinha Argentina é a atual campeã do mundo e do continente.

E a "Pátria de Chuteiras" também não possui mais os melhores jogadores do futebol mundial. Já faz 15 anos que Kaká se tornou o último brasileiro a vencer a Bola de Ouro.

Messi, Cristiano Ronaldo, Modric e Mbappé não vestem a Amarelinha, como se sabe. E o melhor jogador da Seleção hoje é um volante (Casemiro), o que é mais um sinal dos tempos.

A Seleção fez a festa da torcida marroquina
A Seleção fez a festa da torcida marroquinaCBF

Camisa manchada e lastro perdido

Talvez o maior problema para a reconstrução da Seleção seja interno.

Por conta do aumento e da concentração de renda no futebol do sul/sudeste após a adoção dos pontos corridos em 2002, a seleção tornou- se menos nacional. 

Na última Copa do Mundo, 85% dos jogadores brasileiros nasceram nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No Mundial do penta, esse número era de 56%.

Some-se a isso: os atletas convocados saem muito cedo do país para ganhar muito dinheiro na Europa. Isso mantém apenas alguns poucos ainda conectados à difícil realidade brasileira, e faz com que muitos jogadores sejam desconhecidos da maioria da população que não tem TV a cabo para ver a Premier League.

Mais recentemente, outro problema. A camisa do Brasil virou motivo de cisão na sociedade desde que militantes bolsonaristas sequestraram a Amerelinha. 

Extremistas vestindo CBF durante a invasão do Congresso em janeiro
Extremistas vestindo CBF durante a invasão do Congresso em janeiroAFP

E, fora tudo isso, a CBF ainda faz o favor de afastar a Seleção ainda mais de seu povo.

Desde que a confederação terceirizou a venda de amistosos do Brasil, a equipe quase nunca faz esses jogos em casa, ao contrário do hábito das seleções de elite. 

Até o final do ano passado, era uma empresa inglesa (Pitch) a responsável por negociar as partidas, que custavam em torno de R$ 1,5 milhão.

E esse distanciamento com o próprio país não se dá só por razões comerciais. Como o amor pela Seleção nos estádios nacionais nunca foi comovente (vide o famoso jogo das bandeiras atiradas ao gramado do Morumbi, no ano 2000), apresentar-se bem longe evita fadigas.

O interino Ramon ao lado do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues
O interino Ramon ao lado do presidente da CBF, Ednaldo RodriguesCBF

Com espectadores, mas sem torcida

Esse êxodo da CBF parece até nem dar saudades. Pois ao contrário de times como Alemanha ou Argentina, o Brasil nunca teve uma torcida "clubista", uma organizada que acompanhasse a equipe, um canto que empurrasse o time em jogo grande.

O contraste com a arquirrival, por sinal, é gritante. Dois dias antes de o Brasil perder no Marrocos sem a menor cerimônia, a campeã do mundo fazia uma festa emocionante em um Monumental de Núñez lotado, barulhento e pulsante.

A Canarinho ainda gera expectativa por conta da tradição e dos bons jogadores, mas só vai voltar à elite do futebol internacional se passar, de fato, por uma revolução, e se revolver a questão: para quê, para quem ela serve?

Carlo Ancelotti sozinho não será o salvador da pátria.

Hoje, sem técnico, sem lastro, sem rumo, a Seleção é apenas um produto de exportação de qualidade duvidosa.

Nossa Senhora no vestiário brasileiro em Tânger
Nossa Senhora no vestiário brasileiro em TângerCBF