Para o futebol do Quirguistão, a esperança vem de Gana
"Sonho em ver estes garotos se tornarem jogadores profissionais e atuarem nos campeonatos de Inglaterra, Espanha e Rússia", diz à AFP o ex-zagueiro de 37 anos, que chegou à pequena ex-república soviética da Ásia Central em 2007.
"Antes não existia um clube de futebol em Leninskoye. Quando me casei com minha esposa quirguistanesa, me perguntaram se eu poderia ensinar as crianças a jogar futebol", lembra Tagoe, que fala russo fluentemente.
Tagoe faz parte de um grupo de jogadores já aposentados que chegaram ao Quirguistão vindos de Gana por diversas circunstâncias e que hoje trabalham para promover o desenvolvimento do futebol no país, onde os atletas de maior destaque são os das artes marciais mistas.
Depois de uma carreira repleta de títulos, inclusive com o prêmio de melhor jogador do Quirguistão em 2009, ele fundou um clube para crianças, o Football School Tagoe-Leninskoye.
"Eu me matriculei imediatamente desde que Daniel Tagoe abriu o clube", conta Daniil Mujamedaliev, de oito anos, vestindo com orgulho a camisa azul e amarela do FS Tagoe-Leninskoye. "Para vir treinar, atravesso a zona rural. Venho de um povoado que fica longe", conta.
"Nível profissional"
Cerca de 80 jovens entre seis e 18 anos treinam em um campo de grama sintética novo, a alguns metros da escola primária que leva o nome de Vladimir Lenin, fundador da União Soviética, dissolvida há mais de 30 anos e cujo mapa segue pintado de vermelho em um muro do local.
No antigo campo de futebol da escola, agora há cavalos e os gols não têm rede.
Para Zamir Joochev, que matriculou sua filha e seu filho, "tudo tem organização em nível profissional".
"É raro ter um ex-jogador da seleção do Quirguistão como treinador", comemora Joochev.
A modesta equipe quirguistanesa, atualmente 75ª no ranking da Fifa, emendou duas classificações para a Copa da Ásia, ajudada por Daniel Tagoe e David Tetteh, dois dos mais ilustres representantes da pequena colônia ganesa que defendeu as cores dos "Falcões Brancos".
Ambos defenderam o Dordoi Biskek, clube da capital que domina o Campeonato Quirguistanês com 13 títulos desde a independência, em 1991.
Embora hoje seja considerado uma estrela no país, Daniel Tagoe, assim como seus compatriotas, teve que enfrentar o racismo no passado. "Eu era insultado e riam de mim", conta.
Lenda local
Daniel Tagoe jogou primeiro no futebol russo, onde despertou a atenção do Dordoi Biskek para contratá-lo. Seu sucesso fulminante animou vários outros jogadores ganeses para tentar a sorte no Quirguistão, a 11 mil quilômetros do país africano.
"Abrimos o caminho, por isso outros ganeses estão vindo", diz ele.
"Todo mundo quer vir jogar no Dordoi, principalmente os ganeses", conta outro dos pioneiros, David Tetteh, ídolo dos torcedores locais com seus 123 gols pelo Dordoi.
O último grande nome a chegar ao país é o atacante Joel Kojo, que este mês defendeu o Quirguistão na Copa da Ásia Central.
"David Tetteh e Daniel Tagoe fazem parte dos primeiros jogadores estrangeiros a virem ao Quirguistão. Para mim, eles são os melhores jogadores africanos que jogaram aqui", afirma à AFP Ruslan Sydykov, diretor do Dordoi.
Ambos tiveram a honra de terem suas camisas emolduradas no corredor que dá acesso à ala da diretoria do clube e fazem parte do melhor time da história do Dordoi.
David Tetteh, agora auxiliar técnico da equipe, lembra da época em que "todo mundo sabia que, se nós, os jogadores africanos, estivéssemos aqui, o Dordoi ia ganhar.