Apesar de duas décadas separarem o nascimento de ambos, apenas dois anos e 34 dias distanciaram os falecimentos de Maradona — 25 de novembro de 2020 — e Pelé — 29 de dezembro de 2022.
Morre Pelé, o Rei do Futebol, aos 82 anos
Antes de surgir o duelo entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que marca o século 21, era a rivalidade entre o brasileiro e o argentino que movimentava as discussões dos maiores craques da história. O confronto particular marca presença até hoje nas músicas das duas torcidas.
Como símbolo da disputa, Maradona foi eleito em votação popular da FIFA o melhor jogador do século 20; Pelé, por sua vez, levou o prêmio em um júri de notáveis da entidade.
Alfinetadas
Os dois gênios nunca se enfrentaram em campo, mas não perdiam a chance de alimentar a rivalidade com declarações. Em 2010, o brasileiro disse em um evento que o argentino “foi um grande jogador, mas como exemplo é negativo”, em alusão à dependência química de Maradona.
Com frequência, Pelé fazia questão de colocar Maradona em um patamar inferior ao seu dentro de campo. O Rei chegou a questionar o status do argentino como maior jogador do país vizinho.
“Na época áurea de Santos e Real Madrid, diziam que o Di Stéfano era melhor que o Pelé. Ele chutava com a direita e com a esquerda e cabeceava bem. O Maradona só chutava com a esquerda e não cabeceava bem. Então, quando vou lá na Argentina eu digo para eles: discutam primeiro quem é o melhor da Argentina e depois tentem ver quem é o melhor do mundo”, ironizou.
O eterno camisa 10 da Seleção preferia comparar Dieguito a outros craques brasileiros. “Antes de falar do Pelé, Maradona precisa pedir autorização para Zico, Sócrates, Romário, Tostão e Rivellino.”
O argentino costumava criticar o estilo de vida adotado pelo brasileiro depois da aposentadoria. “Pelé é um escravo. Vendeu seu coração para a FIFA. E depois, quando a FIFA o chuta, ele quer fazer amizade conosco, os jogadores”, disse Maradona. Ele também afirmou que o Rei “gostava mais de dinheiro do que de dormir”.
Em 2004, em entrevista à emissora boliviana ATB, Maradona voltou a disparar contra seu rival. “Pelé é um demagogo por ser entregar a política, e isso me enoja. Nós temos que dignificar o futebol com paixão”, declarou.
Encontro histórico
Apesar de toda a troca de farpas ao longo dos anos, Pelé e Maradona viveram um momento emblemático em 2005. Diego apresentava o talk show La Noche del 10, na emissora argentina Canal 13, e recebeu o Rei em um programa.
Maradona, é claro, aproveitou a ocasião para provocar Pelé, mas o episódio foi marcado pelo clima de amizade e por uma troca de simpatias entre dois dos maiores atletas de todos os tempos. O brasileiro, inclusive, pegou um violão e cantou uma música em homenagem a seu nêmesis.
No ápice do programa, Pelé e Maradona protagonizaram uma cena inesquecível. Os dois resolveram bater bola e trocaram 26 passes de cabeça, sem deixar a redonda cair.
Mais recentemente, em 2016, os gênios voltaram a se encontrar em clima de paz, em um evento da marca suíça Hublot, do ramo de relógios de luxo.
“Chega de brigas, te prometo”, anunciou Maradona. “Estamos fazendo um trabalho pela paz, pela união e pelo bem do futebol”, completou Pelé.
Quando o ícone argentino morreu, em 2020, o brasileiro publicou um longo texto de homenagem em seu Instagram.
“Eu perdi um grande amigo e o mundo perdeu uma lenda. Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no céu", profetizou Pelé.