Por que tantos craques batem pênaltis tão ruins? Veja o que dizem os dados
Aconteceu em Japão x Croácia, quando o goleiro croata Dominik Livakovic pegou três penais.
Aconteceu também com a Espanha, cujo técnico Luis Enrique disse que pênalti não era “loteria" e mandou seus jogadores treinarem 1,000 cobranças antes de chegar ao Catar.
Um desempenho inexplicável para uma equipe que contém alguns dos jogadores tecnicamente mais talentosos do futebol atual.
As cobranças foram piores do que na Rússia em 2018, quando a Fúria também foi eliminada nas penalidades nas quartas de final.
Os dados das últimas Copas
A empresa de dados Nielsen Gracenote analisou todos os pênaltis cobrados nas últimas cinco Copas do Mundo, incluindo a do Catar, e descobriu que chutar rasteiro para a direita (50%) ou para a esquerda (68%) tem a menor taxa de sucesso (os números não levam em conta a distância para a direita ou para a esquerda).
Sem surpresas, os tiros no alto, seja para os lados ou no meio do gol, têm uma taxa de conversão de 100% (foram até hoje 20 cobranças desse tipo em Mundiais, segundo o estudo).
Embora possa parecer mais arriscado chutar no alto, apenas cinco penalidades atingiram o travessão ou passaram por cima do gol, enquanto sete atingiram a trave lateral ou foram para fora.
A FIFA introduziu as disputas de pênaltis apenas na Copa de 78 (justamente a única desde então em que nenhum jogo foi decidido nas penalidades). Do Mundial da Argentina até o Catar, foram 35 disputas.
E destas 35, curiosamente apenas duas tiveram de ir para cobranças alternadas.
Linguagem corporal
Então, por que tantos jogadores parecem incapazes de usar sua técnica para apontar para o canto superior mas produtivo e, em vez disso, buscar o canto inferior?
"A margem de erro é apenas um pouco menor", disse o Dr. Matt Miller-Dicks, cientista de habilidades da Universidade de Portsmouth.
"Você não pode chutar um pênalti baixo demais porque o chão impede, mas obviamente você pode exagerar na altura, por isso é uma espécie de medida de segurança dos jogadores. Em situações com menos pressão, os atletas podem ter mais confiança para tentar o canto superior".
A linguagem corporal e a confiança também desempenham um papel importante (só lembrar dos jogadores japoneses parecendo aterrorizados na disputa contra a Croácia no último Mundial).
O uso cada vez maior de paradinhas e tentativas de enganar o goleiro também parecem muitas vezes fazer mais mal do que bem.
Miller-Dicks diz que se o goleiro não se compromete com um lado quando o batedor tenta enganá-lo, sua vida é facilitada.
Obviamente, a pressão psicológica da situação pesa mais sobre alguns do que sobre outros, mas Miller-Dicks diz que o dano é causado muito antes de o jogador realmente cobrar o penal.
"A pesquisa mostra que uma das coisas com as quais eles têm dificuldade não é tanto o chute em si, mas ficar na linha do meio-campo à espera da cobrança e também a caminhada para a marca do cal", disse ele.
"Se você não estiver preparado para aquele momento, então é quando você pode ter dúvidas sobre o que vai fazer e talvez hesite onde colocar o chute".
"Então eu acho que uma coisa chave é que a preparação do cobrador não é necessariamente apenas praticar o pênalti, mas também sobre a caminhada para a cobrança. As equipes ou clubes nacionais têm um psicólogo esportivo e eles têm que ajudar a preparar psicologicamente os jogadores para aquele momento", completou.
Confira alguns recordes das disputas de pênaltis em Copas:
• Goleiro que mais sofreu gol:
Fabien Barthez (França): 8
• Único goleiro a não levar gol em disputa de pênalti:
Oleksandr Shovkovskiy (Ucrânia): Oitavas de final da Copa de 2006 contra a Suíça
• Copa com mais disputas:
Catar 2002: 5
• Copa com menos disputas:
Argentina 1978: 0
• Jogos com mais cobranças:
Alemanha Ocidental x França (1982): 12
Suécia x Romênia (1994): 12
• Jogos com menos gols:
Ucrânia x Suíça (2006): 3
Marrocos x Espanha (2022): 3
• Seleção que mais jogou disputas de pênalti:
Argentina: 7 (1990 (x2), 1998, 2006, 2014, 2022 (x2))
• Seleção que mais venceu:
Argentina: 6 (1990 (x2), 1998, 2014, 2022 (x2))
• Seleção que mais perdeu:
Espanha: 4 (1986, 2002, 2018, 2022)