A equipe, que recebeu o nome de Fênix FC, em homenagem à ave mítica que simboliza o renascimento, disputou alguns amistosos na temporada passada, mas compete agora no quinto escalão da região noroeste da Catalunha, depois de ter sido incorporada num clube local de Sant Feliu de Llobregat, nos arredores de Barcelona.
No ano passado, a Espanha aprovou uma lei pioneira sobre os direitos dos transexuais, destinada a facilitar a alteração da identidade de gênero de uma pessoa. No entanto, a intolerância persiste, com um recorde de 302 casos de discriminação ou violência contra pessoas LGBT na Catalunha em 2023, um quarto dos quais teve como alvo vítimas transgêneros, de acordo com dados compilados pelo Observatório contra a LGBTfobia da região.
Hugo Martinez, de 24 anos, disse à Reuters que enfrentou abusos quando começou a fazer a transição com terapia hormonal de afirmação de gênero e foi forçado a deixar a equipe de futebol feminino em que jogava.
“Eu era um rapaz que jogava em um time feminino, mas sem um documento de identificação alterado, porque ainda não estava autorizado a jogar com rapazes”, disse, contando como outros jogadores, treinadores e pais nas arquibancadas lhe lançavam frequentemente insultos e ameaças.
A experiência levou Martinez a lançar um apelo online a outros homens trans que procurassem jogar futebol num ambiente seguro. A criação do Fênix FC demorou três anos.
Espaço seguro
O capitão Luke Ibanez, de 19 anos, disse que estava hesitante em jogar numa equipe com homens cisgênero - ou não trans -, pois receava não se integrar ou até sofrer violência. Por isso, quando Martinez lhe falou da sua ideia de criar uma equipe só de homens trans, ele aderiu rapidamente.
“Fênix é uma equipe de rapazes trans criada inteiramente por rapazes trans, mas penso que é mais do que isso - uma família, um espaço seguro onde podemos ser livres e expressar-nos como quisermos e como realmente nos sentimos”.
Em resposta às perguntas enviadas por e-mail pela Reuters sobre a sua política atual, a Federação Catalã de Futebol afirmou que as suas ligas masculinas têm sido mistas nas duas últimas temporadas, o que significa que os jogadores de qualquer gênero podem participar independentemente da sua identidade oficial.
Os jogadores também podem optar por usar um nome diferente do seu nome legal, acrescentou. Outras federações regionais limitaram estas modificações a um determinado grupo etário, enquanto as regras variam em outros esportes.
O primeiro jogo da temporada do Fênix, no dia 21 de setembro, terminou com uma derrota por 19 a 0. Mas para os seus torcedores e jogadores, o direito de os homens trans praticarem o seu esporte favorito em condições de igualdade é muito mais importante do que o resultado.