OPINIÃO: SporTV mancha sua história ao interromper final feminina do US Open
Coco Gauff e Aryna Sabalenka duelavam intensamente no set decisivo da partida quando, no quinto game da parcial, o canal resolveu mostrar o que acontecia na quadra 11 de Flushing Meadows.
Na quadra 11 acontecia a grande final do torneio masculino juvenil com a participação de um tenista nascido no Brasil, que ainda tem 17 anos e é número 656 do ranking da ATP.
O SporTV mostrou dois games do primeiro set do possante duelo entre os garotos João Fonseca e Learner Tien em detrimento de dois games do terceiro set da decisão entre as mulheres número 1 e 3 do mundo.
No Twitter, espectadores furiosos reclamaram da decisão esdrúxula da direção do "canal campeão".
Comparado com a decisão das profissionais, o jogo do João – que, como descreveu o repórter do SporTV em Flushing Meadows, é "carioquíssimo" – era muito ruim. Incomparavelmente ruim.
Sem contar que a câmera da quadra 11 é aquela olho-de-peixe que distorce tudo e torna qualquer jogo desagradável de se ver.
Mas o diretor do canal não se comoveu, e quando Gauff x Sabalenka voltou à telinha, a partida estava de repente 4 a 2 para a norte-americana.
O narrador Eusébio Resende deu a desculpa de que Sabalenka estava recebendo atendimento médico, e por isso eles pularam para a final do sub-17 – mas no app do Flashscore você podia ver que a partida das mulheres havia já recomeçado.
Após dividir a tela por alguns minutos para mostrar as duas finais – que sem dúvida se equiparavam, não? – a SporTV fechou seu vacilo com chave de ouro e ignorou a cerimônia de premiação da histórica vitória de Coco Gauff para voltar ao confronto Fonseca x Tien.
Busca frenética por audiência ou patriotada?
"Os atletas brasileiros são sempre prioridade. Além de se tratar de uma decisão, valia a primeira colocação no ranking juvenil", informou a Comunicação da Globo ao Flashscore.
Esta política parece vir de encontro à velha máxima de que brasileiro gosta mesmo é de torcer.
Mas a nacionalidade do adolescente o faz automaticamente mais "torcível" do que Coco ou Sabalenka, personagens que o telespectador já conhece?
João Fonseca é um adolescente da elite carioca cujos pais são sócios do caríssimo Country Club – seu berço no tênis. Muito talentoso, sem dúvida, mas quem resolveu que apenas o passaporte de João o fez mais interessante que as melhores tenistas do mundo?
E outra: bom lembrar que Thiago Wild, o último brasileiro a vencer a chave juvenil no US Open antes de Fonseca, se mostrou ser um dos tenistas menos torcíveis do tour.
É por essa e por muitas outras que o patriotismo cego é, além de descabido, um tiro no pé.
Sim, é verdade que em qualquer lugar do mundo (talvez um pouco menos na Alemanha, que tem traumas muito pesados com o nacionalismo), todo país puxa a brasa para si.
Mas até o pachequismo tem limites.